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“Sem gestão, mercado de médicos autônomos será engolido por grandes clínicas nos próximos 10 anos”

  • Foto do escritor: Paola Gouvêa de Miranda
    Paola Gouvêa de Miranda
  • 21 de ago. de 2019
  • 3 min de leitura

Atualizado: 9 de out. de 2019

Você está preparado para o impacto da verticalização da medicina suplementar no Brasil?



A frase acima foi publicada no Portal Saúde Business em 23 de novembro de 2018.

Já estamos em outubro de 2019 e o cenário continua apontando para a mesma direção.


Na década de 80, o mais comum eram os hospitais montarem seus planos de saúde, mas a partir de 1989 essa situação se inverteu e os planos passaram a comprar hospitais. Esse processo, chamado de verticalização, atualmente voltou repaginado e com força total.


Não vou chover no molhado aqui porque sei que seu tempo é curto, todos já sabem como foi o modelo utilizado que gerou o aumento vertiginoso de custos para as operadoras e as fez partir para os modelos de verticalização atuais. Isso é um fato.


A verticalização é uma realidade que tende a crescer muito nos próximos anos, em parte devido ao aumento expressivo de capital estrangeiro - via fundos de investimento - querendo aumentar seus ganhos atuando no lucrativo mercado de saúde suplementar no Brasil.


Os riscos da verticalização e um pouco da história


Fonte: CREMESP - Em busca de uma verticalização que certamente reduz o custo de transação, as operadoras passaram a ter seus próprios hospitais, seus laboratórios de análises e a contratar médicos como assalariados, na maioria das vezes desrespeitando a legislação trabalhista e precarizando o vínculo. Desta forma, passam a ter controle sobre toda a linha de serviço, e monopolizam o mercado.


O mercado de planos de saúde vive um processo de verticalização que preocupa médicos, usuários e hospitais independentes. Esse movimento já era perceptível nos anos 1970 e 1980 quando, em sentido contrário, hospitais privados e mesmo filantrópicos criaram e passaram a vender seus próprios planos de saúde. A partir de 1990, foram as operadoras que começaram a abrir ou comprar hospitais, formando sua rede própria. Se a verticalização traz vantagens para as operadoras, para o médico ela é mais uma ameaça para sua autonomia. Para o paciente, é mais uma estratégia de mercado em detrimento da qualidade do serviço.


Há uma vantagem legal que incentiva a verticalização e desequilibra o mercado em benefício das operadoras de saúde. Por lei, as operadoras podem abrir capital e receber investimentos estrangeiros, enquanto os hospitais independentes, filantrópicos ou não, não podem ter acesso a esses recursos.


Para os médicos, a verticalização também ameaça o mercado de trabalho, já que as operadoras passam a ter controle muito maior sobre os prestadores de serviço. Como a ANS não regulamentou esse processo de verticalização – nem obteve sucesso na regulação da relação prestador e operadora – é esperado que as relações se tornem ainda mais difíceis e desequilibradas. Na verdade, a Agência ainda não criou padrões de qualidade para a verticalização.


Outra preocupação é com o impacto desse processo sobre a liberdade de escolha do paciente e do próprio médico. A verticalização acaba criando um cenário competitivo onde a qualidade pode ser substituída pela sustentabilidade do negócio. Trata-se de um processo onde não se vê com clareza a linha divisória entre o resultado econômico e a qualidade da assistência. Mais importante, tira totalmente a liberdade do paciente de poder escolher seu médico ou prestadores de serviços, uma vez que estes são impostos pelas operadoras verticalizadas, através de serviços próprios.



O presidente da Confederação Nacional de Saúde, Breno Monteiro, está preocupado com o impacto para o consumidor da decisão da operadoras de saúde de descredenciar hospitais para favorecer sua rede própria. Segundo ele, a verticalização da saúde suplementar tira a opção de escolha e restringe a livre concorrência.


Para a confederação, o resultado final devido à concentração de mercado na mão apenas de poucas operadoras será o aumento de preços e a diminuição da qualidade assistencial. Para ele, a ANS deveria entrar no assunto.


O mercado de Saúde suplementar brasileiro vive, há tempos, um conflito de interesses: de um lado, o lucro dos hospitais, laboratórios e demais prestadores de serviço vêm pelo número e complexidade de serviços prestados; do outro, operadoras precisam reduzir custos e, quanto menos intervenções houver em seus beneficiários, menor será o valor a ser despendido à sua rede credenciada. Nesse cenário no qual o resultado positivo de um depende da perda de receita do outro, ganha força o movimento de verticalização das operadoras de saúde.


Saiba mais sobre a autora AQUI




 
 
 

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